0250 – Ele Escolheu Você

 0250 – Ele Escolheu Você

Introdução

Uma das maiores estratégias do maligno é convencer você de sua incapacidade em realizar algo grandioso nesta terra. Você não é o único. Os discípulos de Jesus também não acreditavam que podiam realizar alguma coisa quando o Senhor Jesus os chamou. 

Na sociedade judaica dos dias de Jesus toda a instrução e alfabetização de uma criança era feita a partir da Torá (os cinco primeiros livros a bíblia). Essa instrução começava bem cedo, pois a ordem bíblica é para que se falasse da lei ao levantar-se, ao deitar-se e também ao sentar-se à mesa para as refeições. No entanto, a educação formal começava apenas aos seis anos de idade. O primeiro estágio da educação ia dos seis aos dez anos e era chamado “Beit Sefer” que significa “Casa de leitura”. Nesse estágio a criança ia para uma sinagoga local onde havia um rabino que era conhecedor das escrituras e muito respeitado pela comunidade. Naqueles dias não existia a imprensa e, muitas vezes a única cópia das escrituras que existia na aldeia era a da sinagoga. Todo sábado aquele rabino pegava as escrituras e a estudava com a comunidade, mas durante a semana ele ensinava as crianças. 

O mais impressionante era que aos dez anos a maioria das crianças já tinha memorizado toda a Torá. No final dessa fase os alunos eram selecionados e apenas os melhores eram escolhidos para seguirem para o segundo estágio da educação, chamado “Beit Midrash” que significa Casa de estudo. Essa fase ia dos dez aos catorze anos de idade, mas apenas os melhores avançavam para ela. Todas as outras crianças que não eram selecionadas voltavam para casa para aprenderem a profissão dos pais. Nesse segundo estágio a criança deveria memorizar não apenas a Torá, mas todo o Velho Testamento. Os rabinos levavam os adolescentes a raciocinar a respeito do texto bíblico. Eles sempre respondiam as perguntas dos alunos com uma outra pergunta. Você pode ver nos evangelhos que quando Jesus mencionava textos do Velho Testamento ele não dava muitas explicações, porque em geral as pessoas eram muito bem-preparadas para entender as escrituras.

Depois dessa fase vinha ainda um terceiro estágio. Mais uma vez apenas os melhores alunos, aqueles que realmente se destacaram poderiam avançar para a próxima fase. O adolescente poderia procurar um dos rabinos famosos e se apresentar para ser seu discípulo. Ele se dispunha a ser um “talmid” que significa discípulo (O plural de talmid é talmidim). O rabino, porém era muito exigente para aceitar um talmid. Ele somente aceitava um talmid que ele acreditasse que poderia se tornar exatamente como ele. Alguém que teria a mesma capacidade intelectual, o mesmo zelo e a mesma autoridade. O rabino estudava cuidadosamente a vida daquele adolescente, sua família e sua capacidade intelectual. Ele fazia uma grande sabatina de perguntas sobre todo o Velho Testamento, sobre as diversas interpretações dos rabinos e a opinião deles acerca dessas interpretações. 

Dessa forma, a grande maioria dos jovens simplesmente não era escolhida. Quando um garoto não era escolhido, ele ouvia o rabino dizer: “você conhece bem as escrituras e será um bom judeu, mas infelizmente não tem as qualificações para ser meu talmid. Volte para sua casa, aprenda a profissão de seu pai e seja um bom hebreu”.

Mas aqueles poucos que eram escolhidos, ouviam o rabino dizer uma frase que todo menino judeu sonhava em ouvir. Eles diziam: “vem e segue-me!”. 

Ao se tornar um talmid o jovem entrava no terceiro estágio da educação em Israel chamado “Beit Talmud” que significa Casa de Ensino. Nesse estágio eles se aprofundavam muito mais nos estudos das escrituras. Eles aprendiam os ensinos dos maiores rabinos da história do povo judeu. Os talmidim se sentiam muito orgulhosos de serem discípulos e por isso quase sempre eles se mudavam para a casa do seu rabino. Eles seguiam de perto o seu mestre e imitavam tudo o que este fazia. Todo talmidim sabia que ele estava destinado a se tornar exatamente como o seu mestre, o rabino.

Quando os talmidim chegassem aos trinta anos de idade eles poderiam se tornar um rabino e terem os seus próprios talmidim.

A Bíblia não fala muito da vida de Jesus antes dos trinta anos, mas tudo indica que o Senhor passou por essas fases de educação. Quando ele tinha doze anos de idade, Lucas nos conta que ele estava no Templo discutindo com os mestres. Isso significa que ele teve Bete Sefer, ou seja, aprendeu o Torá na sinagoga da sua cidade. Mas para ser um rabi ele teria de receber a autoridade de um outro rabi. Certa vez os fariseus perguntaram a Jesus com qual autoridade ele fazia todas as coisas. Como resposta o Senhor perguntou se eles reconheciam o batismo de João como sendo de Deus. Ali o Senhor já estava dizendo de onde vinha a sua autoridade como rabi (Mt 21:23-27). Havia uma ligação entre João Batista e Jesus, mas como essa autoridade se estabelecia? Entendamos quais eram as razões judaicas para o batismo:

a. Ritual de purificação

De acordo com a Torá era preciso estar cerimonialmente puro antes de entrar no Tabernáculo ou Templo. A pureza cerimonial era requerida em muitas ocasiões e o meio mais importante de obtê-la era através de lavagem com água.

b. Identificar-se com um ensino

No judaísmo do primeiro século era aceito que o rabino falava com a autoridade de Deus. Os Talmidim eram batizados “em nome de um rabino”, revelando assim,  submissão àquele rabino.

(Quando você é batizado em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo você se identifica com Deus).

c. Quando um gentio se convertia ao judaísmo

Quando um gentio se batizava ele estava declarando publicamente a sua entrada na verdadeira fé do judaísmo. 

Qual foi então o propósito do Batismo de Jesus? 

O propósito foi identificar-se com o ensino de João. Isso era um aval do ministério de João e mostrava que o ministério de Cristo tinha uma ligação com o de João (Mt. 3:13-16). Ele também se batizou para se identificar conosco como pecadores. 

O batismo de Jesus era também um símbolo de Sua morte e ressurreição, e dessa forma ele forneceu ao batismo cristão o sentido fundamental de novo nascimento e uma nova identidade. Finalmente, o batismo de Jesus foi a inauguração do seu ministério público. Isso ocorreu quando ele completou 30 anos. Foi nesse momento que Cristo recebeu o “S'mikhah” (autoridade). Ele se tornou reconhecido como alguém que ensinava com autoridade. O S'mikhah era o ato de um rabino passar a sua autoridade a um discípulo.

Jesus foi chamado de Rabi por membros de todos os grupos judeus reconhecidos, e atuou em todos os sentidos, como um rabino S'mikhah. Em Mateus 7:28-29 lemos: Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina; porque ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas.

Todo rabino tinha que receber seu  S'mikhah (ou seja, sua autoridade) de dois rabinos que também tivessem o S'mikhah. Aqueles dois rabinos com S'mikhah usavam a sua autoridade para reconhecerem o talento, o conhecimento, o caráter e a capacidade de ensinar daquele rabino. No caso de Jesus, João Batista foi o primeiro a dar a Jesus o S'mikhah quando Jesus foi batizado no rio Jordão por ele. O segundo foi o próprio Deus (Mt. 3:17). Nesse momento ele já é famoso na Galiléia como rabino, mas ainda não tinha nenhum discípulo. Mas o Senhor veio para quebrar todos os paradigmas.

1. Ele escolheu os improváveis

Em primeiro lugar ele não ficou esperando nenhum talmidim procurá-lo, mas ele mesmo os escolheu.

Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda. Jo. 15:16

Quando o Senhor chamou a Pedro e a André eles estavam pescando. O Senhor vem e faz a pesca maravilhosa. Eles estavam pescando porque não tinham sido bons o suficiente para serem discípulos, talmidim de um rabino. Por causa disso seguiram a profissão dos pais. Certamente Pedro e André tinham sonhado ouvir aquela frase, mas agora o Senhor lhes diz: “vem e segue-me!” É por isso que eles deixaram tudo na mesma hora. Um rabino famoso os estava chamando.

Depois o Senhor vê a João e Tiago. Que idade eles tinham? Certamente eram jovens com dezesseis ou dezessete anos. Eles estavam consertando redes porque ainda estavam aprendendo a profissão de seu pai que era pescador. Eles não tinham sido selecionados para serem discípulos de um rabino, mas agora eles também ouvem aquela frase que tanto tinham sonhado ouvir: “vem e segue-me!”.

Depois disso o Senhor viaja com eles por quarenta quilômetros até chegar a Cezaréia de Felipe. Aquela era uma cidade de Israel cheia de idolatria e devassidão. Era uma cidade construída em homenagem a César. Ali era um centro mundial de adoração ao deus Pã, uma entidade metade homem com corpo de bode. Ali havia uma gruta com a imagem desse deus que era chamada pelos judeus de porta do inferno. Ao redor daquele templo, homens adoravam ao deus Pã por meio de relações sexuais com cabras. Ali o Senhor afirmou que eles faziam parte de sua Eclésia, o gabinete que iria reinar com ele. O Senhor ainda prometeu que as porta do inferno não poderiam resistir o avanço da sua Eclésia.

Não dá para imaginar a emoção e a grande alegria que sentiram de terem sido escolhidos para serem talmidim com uma missão tão extraordinária.


2. Fomos escolhidos para ser como ele

Noutra ocasião o Senhor manda os discípulos adiante dele navegando no mar da Galiléia. De madrugada o Senhor aparece para eles andando sobre as águas. Os discípulos ficaram assustados pensando se tratar de um fantasma, mas logo o Senhor lhes disse: “Sou eu! Não temais!”

Lembre-se que um talmid deveria fazer tudo que o seu rabino fizesse e deveria ser tudo o que ele era. Lembre-se também que todo talmidim estava destinado a se tornar exatamente como o seu mestre. É por causa disso que Pedro diz: “Se realmente é o Senhor, manda que eu vá ter com o Senhor sobre as águas!” Observe que o Senhor não o repreendeu dizendo que aquilo era somente para o mestre. Mas imediatamente disse: “vem!” A frustração de Jesus não era porque eles queriam muito, mas ao contrário, o Senhor desejava que eles entendessem que poderiam ser como o rabino. O que levou Pedro a afundar não foi a falta de fé em Jesus, mas foi a falta de fé de que ele poderia ser como Jesus. Nosso grande desafio é assumir a nossa posição como discípulos do Senhor. Basta ao discípulo ser como seu Mestre.

Você foi escolhido para ser discípulo de Jesus porque ele acredita em você. Antes apenas alguns privilegiados eram escolhidos, mas agora ele escolheu os que não são escolhidos.

I Jo. 4:17 diz: “Nisto é em nós aperfeiçoado o amor, para que, no Dia do Juízo, mantenhamos confiança; pois, segundo ele é, também nós somos neste mundo”. Nós seremos glorificados no futuro, mas espiritualmente já somos como ele é hoje. Não é por nossos méritos, mas pela ação do Espírito Santo. Os talmidim deveriam ser como seu mestre; eu sou como o meu mestre Jesus. Você é alguém muito especial. Você não está vivo para simplesmente existir ou ocupar um lugar na terra. Sua missão como igreja é fazer discípulos. Por muito tempo a igreja enganou-se, pensando que deveria fazer convertidos, mas hoje, está vindo sobre nós o entendimento que o propósito, o foco, o alvo, é fazer Talmidim!


3. Ele acredita em você

Naqueles dias todo rabino possuía o seu jugo. Se um jovem aceitava tornar-se seu discípulo, ele estaria concordando em tomar sobre si o "jugo" do rabino. O “jugo” seriam os seus ensinamentos, estilo de vida, etc. Os jovens procuravam aqueles rabinos que tinham o jugo mais pesado, pois esses eram os mais admirados. No entanto o Senhor Jesus começa dizendo que o seu jugo é suave e leve (Mt. 11:28-30). Os discípulos de João Batista e dos fariseus ficavam indignados porque os discípulos de Jesus não jejuavam, comiam ser lavar as mãos e participavam de jantares em casa de pecadores. O Senhor sempre quebra os nossos padrões religiosos e nos convida para a sua graça.


Conclusão

O rabino só convidava alguém para ser seu talmidim se ele acreditasse que ele poderia se tornar como ele. JESUS ACREDITA QUE VOCÊ PODE SER COMO ELE! Aleluia! Jesus acredita que podemos curar, operar milagres, caminhar sobre as águas (Mateus 14: 22-29), ressuscitar mortos… Ele acredita em você; creia nisso! Ele acreditou que seus talmidim poderiam tornar-se líderes e fazerem o mesmo com muitos outros discípulos. Ele te diz: “vem e segue-me”! 


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